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Soro e manta gelados salvam triatleta cujo coração parou por 20 minutosCLÁUDIA COLLUCCI Por 20 minutos, o coração do advogado e triatleta Glauco Reis, 39, parou. Ele recebeu massagens cardíacas, mas só voltou a ter batimentos após um choque de desfibrilador automático. Ao acordar, porém, tinha 80% de chances de sofrer lesões neurológicas permanentes em razão da falta de oxigênio no cérebro. Foi submetido, então, a um tratamento ainda pouco difundido no país, a hipotermia terapêutica, que consiste em reduzir em 5 graus Celsius a temperatura do paciente. A terapia, que já é usada em instituições como o InCor (Instituto do Coração), HCor (Hospital do Coração) e hospital Albert Einstein, passa a fazer parte das novas diretrizes brasileiras sobre os cuidados pós-ressuscitação cardiorrespiratória, que serão publicadas no próximo mês. "A hipotermia já faz parte das boas práticas médicas. Não adotá-la é privar o paciente de um tratamento que vai reduzir muito as chances de ele ficar com sequelas neurológicas", diz Sérgio Timerman, cardiologista do InCor.
Levado ao InCor pelo Samu, Reis teve o corpo resfriado com soro gelado na veia e usou manta e roupas térmicas durante 24 horas. Um termômetro no esôfago monitorou a temperatura para que ela não caísse abaixo dos 30 graus Celsius. Todo o tratamento foi pelo SUS. Estudos mostram que, após uma parada cardíaca, de 60% a 90% dos pacientes morrem. Dos que sobrevivem, até 80% podem ficar com sequelas. Com o uso da hipotermia, que aparentemente coloca o corpo num estado de "espera" e minimiza danos, as chances de sobrevida sem sequelas são de 75%. Mas o tratamento também traz riscos. Dos oito pacientes que passaram pela hipotermia nos últimos dois anos no InCor, só dois sobreviveram. Reis é um deles. "Há critérios para receber a hipotermia", diz Cláudia de Bernoche, chefe da UTI do InCor. É preciso, por exemplo, que a parada cardíaca tenha sido presenciada por alguém para fornecer informações sobre o evento aos médicos e que o início das manobras de ressuscitação ocorra até 15 minutos após a parada. O InCor iniciará estudos para ampliar o uso da hipotermia para casos de infarto. No exterior, já existem pesquisas para AVC (acidente vascular cerebral) e traumatismos. A técnica chegou a ser usada para tentar salvar a vida do presidente Tancredo Neves (1910-1985). PERDA DE MEMÓRIA No caso do advogado Glauco Reis, sua mulher, Maria Esther, viu quando ele se levantou da cama e caiu no chão --o coração tinha parado. Foi no dia 4 de julho, às 6h. "Ele não respirava, não tinha batimentos. Estava morto", lembra Maria Esther, 39, também advogada. Ela, o irmão de Reis e o vizinho tentaram fazer massagem cardíaca. "Mas ele não voltava." Após o resfriamento, ele acordou sem se lembrar de fatos recentes --um dos efeitos colaterais do tratamento. "A última coisa que ficou registrada foi meu treino de bicicleta, 24 horas antes da parada cardíaca", diz Reis. A médica Claudia de Bernoche lembra que Reis não retinha a informação da morte súbita. "A gente explicava e logo ele esquecia." Hoje, ele carrega no peito um desfibrilador implantado, que vai disparar choques caso o coração pare de novo. A parada cardíaca de Reis, praticante de triatlo há 15 anos, ainda está sendo investigada. "Sinto falta do esporte, mas o bem maior, que é a minha vida, foi preservado." |
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ATENDIMENTO Roberta Reis Lima e Edivania Lima, colegas de classe de Angelita, afirmaram que a faculdade não se deu conta da gravidade do caso e demorou para chamar o socorro. O marido dela, José Carlos dos Santos, 44, afirma que a instituição não tinha estrutura para atendê-la ali. Há versões diferentes para o tempo que a universitária levou para ser atendida. Na melhor das hipóteses (segundo a FMU), o resgate levou 14 minutos para chegar a partir da constatação de que Angelita passava mal; na pior, 42 minutos, disse à polícia Alfredo Meletti, 47, professor que dava aula na hora. Apesar de ter o equipamento, Angelita não foi atendida com o desfibrilador; ela recebeu massagens de uma aluna. Questionada, a faculdade não respondeu por que não usou o aparelho. O depoimento de um funcionário da FMU põe em xeque o atendimento prestado pela instituição. Sergio Conti, coordenador do curso de ciências contábeis, disse que um bombeiro civil da FMU estava de plantão, mas, por "razões que desconhece", não atendeu Angelita. Já Roberta, a amiga da universitária, disse ainda que dois funcionários da FMU impediram que a vítima fosse levada até o hospital São Luiz. A FMU não respondeu a nenhuma das questões. O marido disse que irá processar a faculdade. "Foi praticamente um homicídio." Angelita tinha arritmia cardíaca "há muito tempo" e parou de tomar remédios havia um mês, após ir ao médico
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Uso do desfibrilador automático externo no
ambiente pré-hospitalar peruano: melhorando a resposta a emergências na América Latina Uso de desfibrilador automático externo en ambiente prehospitalario peruano: mejorando la respuesta a emergencias en Latinoamérica Use of automated external defibrillator in Peruvian out-of-hospital environment: improving emergency response in Latin America INTRODUÇÃO A prevalência de doenças cardiovasculares está aumentando bem como as taxas de morte por eventos repentinos. Nos Estados Unidos e na Europa calcula-se que a cada ano, de 250.000 a 450.000 mortes são causados por parada cardíaca, (1,2) sendo este a mais comum e letal das doenças cardíacas. (1) A maioria destes eventos ocorre em pessoas que estão fora do hospital, o que é conhecido como “out - hospital cardiac arrest (OHCA)”. No Peru, não existem dados sobre a mortalidade por parada cardíaca, mas a doença cardiovascular é a segunda principal causa de morte, (3) o que nos leva a crer que provavelmente, a parada cardíaca súbita é um evento importante e deve ser considerada em nossa sociedade como um problema de saúde pública. Hoje, no Peru a conscientização sobre este problema na população em geral continua bastante escassa. A maior parte das pessoas não sabe como atender a um caso de parada cardíaca súbita e muito menos como usar um desfibrilador automático externo (DAE), em um momento crucial, (4) junto com uma adequada reanima- ção cardiopulmonar (RCP) (5) para melhorar a sobrevida, tanto intra-hospitalar quanto ambulatorial. Não existe uma política consistente em nosso sistema de saúde para assegurar uma melhora no atendimento de emergência ao paciente extra-hospitalar. Mesmo quando estas medidas preventivas demonstraram claramente um custo/ benefício. (6) Tendo em vista estas considerações é importante apresentar este relato de caso como um dos primeiros registros no Peru sobre desfibrilação precoce com um DEA em um lugar público. Por 70 vezes, o coração parou. Por 70 vezes, ele foi reanimado e voltou à vida. Tudo isso num período de 12 horas. Inédito na cardiologia brasileira, o caso do eletricista mineiro Francisco Xagas Silva, 66, intriga médicos e deve ser publicado em breve no periódico "Ressuscitation", referência mundial na área.
Tudo começou com um infarto, no dia 31 de dezembro de 2008. À época, ele fumava dois maços de cigarro por dia. Ao ver o marido com dor no peito, pálido e com diarreia, a mulher, Fidélia, 55, chamou o Samu. Foi a sorte. Na ambulância, ele desmaiou. No pronto-socorro, teve a primeira parada cardíaca. "Eu não me lembro de nada. Apaguei", conta Silva. Já Fidélia se lembra de tudo. "O médico dizia: 'Ele tá muito mal, sofreu parada cardíaca. Prepare-se para o pior. Eu ajoelhei no chão e pedi: 'Doutor, salve meu marido. Não desiste dele, não'." E o médico, do SUS, não desistiu. A cada parada cardíaca, o reanimava com massagens, choque no peito e altas doses de antiarrítmicos. Foi assim por quase 12 horas. Com o coração estabilizado, ele foi transferido para o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, onde recebeu uma ponte de safena e três stents ("mola" para abrir artérias). Na UTI, sofreu embolia pulmonar, insuficiência respiratória e infecção generalizada. Ficou 15 dias em coma. "Os médicos diziam: 'Ele tá bem ruim. Se sobreviver, deve ficar com sequelas'. Eu só rezava", lembra Fidélia. "Quando o telefone de casa tocava, dava um frio na espinha, a gente travava diante do aparelho. Não conseguia atender", conta a filha Ninótica, 32, enfermeira. Mais uma vez, Silva surpreendeu. Voltou do coma intacto. "Sabia até as senhas do banco", diz a mulher. Do período em que ficou entre a vida e a morte, ele se lembra apenas da sensação de estar em um navio afundando. "Eu pelejava para sair e não conseguia." A história das "70 vidas" de Francisco Silva só foi resgatada recentemente, quando a enfermeira Daniela Morais pesquisava casos de paradas cardiorrespiratórias atendidos pelo Samu-BH entre 2008 e 2010 para a sua tese de doutorado na UFMG. Foram 1.165 pacientes -239 encaminhados a hospitais. "A maioria faleceu nas primeiras 24 horas. A história do Francisco é a mais incrível." O cardiologista Sergio Timerman, médico do Incor (Instituto do Coração) e um dos examinadores da banca de doutorado de Daniela, endossa: "Nunca vi nada igual." Segundo ele, é comum o paciente sofrer, no máximo, quatro paradas cardíacas após um infarto. "Setenta é, sem dúvida, um caso único." SORTE Para a família Silva, a explicação para o fato tem uma só palavra: milagre. Já Timerman levanta três hipóteses. A primeira é a boa condição clínica (apesar da diabetes e do tabagismo) do paciente. A segunda é ele ter recebido uma ressuscitação de alta qualidade. "A terceira é a sorte. Sem dúvida, esse é um homem de sorte", diz o médico. Silva segue desafiando a sorte. Após o infarto, ele parou com os cigarros, começou a praticar exercícios, mas abusa dos doces, mesmo com a diabetes descompensada. "Ele come doces escondido. Dá um trabalhão", entrega a mulher. "São só umas balinhas", desconversa ele. O histórico de sobrevivência desse "highlander" (guerreiro imortal escocês do século 16 do filme de 1986) mineiro é antigo. Aos 17 anos, ele teve uma úlcera supurada. Aos 26, contraiu tuberculose. Em 1999, sofreu uma trombose na perna. Fez uma cirurgia para revascularizar a área, mas teve que amputar o dedão do pé. No local da amputação, surgiu uma ferida que não cicatrizava. Os médicos, de novo, recomendaram a amputação. Silva disse não. "Nasci com a minha perna e vou morrer com ela." A mulher e a filha assumiram o risco e o levaram para casa. "Ficamos sete meses fazendo curativo, até cicatrizar a ferida", lembra Ninótica. Em 2004, Silva fez uma cirurgia para retirar três tumores (benignos) na próstata e contraiu uma infecção generalizada. Também se safou. "Rezo muito pouco, mas sou devoto de Nossa Senhora de Fátima. Acho que tem um dedinho dela nisso tudo."
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